Era precisamente 1h40 da manhã (em França). Tomei uma decisão que já devia ter tomado à imenso tempo. Fui ao quarto, peguei no caderno que tinha preenchido com textos e tudo mais dirigido a ti, incluindo aquela carta que te fiz à cerca de um ano e meio mas nunca te cheguei a entregar por falta de oportunidade, acho. Vesti uma sweat. Dirigi-me à varanda com um isqueiro. Sentei-me. Peguei nas folhas e ia rasgando as em pequenos bocados à medida que os ia queimando. Os olhos ardiam, tanto pelo fumo como pelas lágrimas. Queimei tudo, até a capa do caderno que tinha um pequeno desenho. Queimei tudo, menos as duas fotografias e uma pequena carta que me fizeste, não por falta de coragem mas sim porque quero guardar uma coisa nossa, tua.  Enquanto estava sentada no chão frio com as mãos dentro da camisola a observar o fogo a alastrar-se pelas folhas de papel escritas e a queimar cada palavra, iam-me passando pequenos momentos diante dos olhos. Bons e maus momentos. Mentiria se dissesse que não tenho saudades, mas sinceramente, já não tenho aquele desejo de querer voltar atrás. Agora fazes parte do passado e é la que vais ficar. Isto foi uma fuga que encontrei desta loucura que já dura à demasiado tempo. Foi um ponto final na nossa história. Não quero que voltes nunca mais. Virei a página. Não é que me vá esquecer de tudo que um dia fomos, e passamos. As memórias ficarão sempre guardadas, mas ultrapassei. E agora não passas disso, de uma memória.

No fim, atirei as cinzas e deixei que o vento lhes desse um destino, que as levasse para longe de mim, tal como tu estás. Quando voltei para dentro, tinha o cheiro a fumo entranhado na camisola e nas mãos, os olhos estavam vermelhos. Eram 2h15.


19/04/2008.